Edição 81 - Ano 8
Revista Kaza
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amelia tarozzo
em traçado
de leveza
Com uma linha de 23 produtos (e mais um saindo do forno), a arquiteta e designer transita com alegria e feminilidade pelos caminhos criativos de uma carreira ainda recente, mas já vigorosa. Marceneira por vocação, trata como filho cada móvel que desenha. E confessa: “A questão da sustentabilidade me tira o sono”.
design
Ela é Maria Amelia de Barros Tarozzo Lopes, em São Paulo desde os 17 anos, quando chegou de Ribeirão Preto para fazer arquitetura na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Trouxe na bagagem o gosto pela arte, o dom de desenhar e o amor pela marcenaria, herança do avô paterno,
fabricante de móveis por quase 50 anos. Antes de definir-se na carreira, mesmo depois de formada, em 2000, ela deu vazão ao seu lado irrequieto e curioso. E, de antenas bem ligadas, acreditou no potencial de transitar sem preconceito por setores não tão familiares à arquitetura: marketing, vendas, eventos, cidadania empresarial, o desejo de “mudar o mundo” - por que não? Todo um aprendizado que acabou enriquecendo sua visão social e empresarial. Apaixonada confessa por marcenaria, ela tirou o máximo proveito das oficinas e cursos que fez. “Duas vezes por semana saía do trabalho e ficava até tarde da noite me enchendo de serragem!
Chegava em casa imunda, mas realizada. As técnicas da marcenaria tradicional sempre me interessaram muito”, conta Amelia, muito à vontade na lida com torno, máquinas e ferramentas, e envolvida pra valer no uso responsável da madeira. “Tem sido o meu material por excelência. Claro, estou aberta ao novo, mas a madeira tem um algo mais... É viva mesmo depois de serrada. Carrega uma espécie de força da natureza que atrai coisas
boas”, observa, lembrando sua meninice de andar descalça, subindo em árvores, brincando com besouros e cigarras, chupando manga no pé.
Das boas raízes, o plantio
e as primeiras colheitas
Em meio a experiências e aprendizados, Amelia, que ia se casar, resolveu criar ela própria os móveis do novo apartamento. “Os amigos começaram a gostar e encomendar, daí virou negócio! Lancei a primeira coleção em casa mesmo, montei site, fiz cartão e vendia informalmente no meu aparpor
claudia ferraz
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K
Amelia Tarozzo
Rua Fidalga, 515, casa 7
Vila Madalena, São Paulo, SP
(11) 3034 6202 / 9980 9978
www.ameliatarozzo.com.br
O que pira e inspira Amelia
A arquitetura me pira! Sempre tento trazer algo dela para a escala do mobiliário. Das antigas, Niemeyer, Artacho Jurado, Artigas; das atuais, Marcio Kogan, Isay, Loeb, Tryptike. Adoro aquele projeto da loja da Ferrari na avenida Brasil, em São Paulo, do José Wagner Garcia. Sou fanática por Frank Loyd Wright e Gaudi, Jean Nouvel, Herzog & de Meuron etc. etc. Admiro muito o design escandinavo, as técnicas construtivas da arquitetura antiga japonesa em encaixes de madeira, o nosso pau-a-pique...
Mas o que me inspira mesmo são as pequenas coisas do dia-a-dia. Viajo bastante e em cada cantinho do Brasil encontro uma riqueza cultural sem tamanho! Gosto de observar as casas, as pontes, os barcos, as carroças, o fluxo de pessoas, a culinária, o artesanato, os mercados... Isso me inspira pra valer!
tamento, direto para arquitetos e decoradores. O ateliê veio em dezembro de 2008, numa casinha de vila onde uma amiga paisagista, Juliana Freitas, fez um jardim lindo. O resultado aos poucos vem chegando. Fui finalista nos prêmios Planeta Casa 2008, no Design Casa Brasil e no Ecoleo de Design em 2009, e agora no Salão Design Movelsul 2010. Passei a ter representações em sete Estados e a exportar para a Inglaterra”, conta entusiasmada.
De caderninho a tiracolo ou rabiscando em guardanapos de botecos, ela não deixa escapar insights nem traços que mereçam registro. Desses rascunhos surgem os primeiros estudos de suas criações em madeira maciça e laminada. “Parto, então, para o protótipo, na fábrica onde terceirizo a produção, a Marcenaria São Paulo. Com o Paulo Alves e o Luis Suzuki, ambos arquitetos e designers, afinamos a peça até o produto final. Nada é excêntrico nem de difícil execução. Busco a beleza em linhas simples e geométricas. Adoto técnicas de encaixe da marcenaria tradicional e, se preciso, uso prego e parafuso”, diz. Para suas peças exclusivas,
sob medida, um cuidado: madeira em diversas opções, quase tudo do sistema DOF (Documento de Origem Florestal), do Ibama, ou certificada pelo FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal).
Amelia por Amelia? “Como arquiteta, meu olhar para o desenho é como se fosse um edifício: a peça precisa parar em pé com segurança! Também tem de ser confortável, ergonômica, respeitar o uso da matéria-prima e ser viável comercialmente. E quando o cliente escolhe um móvel meu, dentre tantas opções lindíssimas que têm por aí, ah, sinto-me, de verdade, honrada e agradecida! Ainda tenho dificuldades
em aliar qualidade, coisa de que não abro mão, com preço mais acessível. Gostaria mesmo é de fazer peças de design para muitos!”.
Na outra página, o bufê Paralelo, leve, quase flutuante, inspirado em obras arquitetônicas do movimento modernista, e a estante Zigzag, quase um labirinto vertical. Aqui, a poltrona Lisboa (esquerda), que Amelia considera seu melhor projeto, e a poltrona Marimba, finalista no Salão Design Movelsul 2010: estrutura em cumaru e assento em madeiras de reaproveitamento.