identidade
a casa
com DNA
Pessoas diferentes vivendo em lugares diferentes. Essa é a saída encontrada
por muitas pessoas que afirmam sua identidade num mundo,
por incrível que pareça, cada vez mais igual. Com a arquitetura moderna
surgida no século XX, as grandes metrópoles internacionais – com seus
arranha-céus de fachada envidraçada – tornaram-se reflexo umas das outras.
Mesmo com o esforço dos grandes arquitetos, cidades emergentes
como Shangai (na China) e Dubai (nos Emirados Árabes Unidos), ícones
modernos como Nova York (nos Estados Unidos) e Tóquio (no Japão) e
megalópoles urbanas do Terceiro Mundo; como São Paulo (no Brasil) e
Cidade do México (no México) tornaram-se um dicionário, com um vocabulário
reconhecível e imitado mundo afora.
A casa, porém, é o último refúgio de nossa personalidade. Diferenças culturais,
étnicas e de gênero são elementos que definem como ocuparemos
os espaços de nossas casas. “A identidade de uma pessoa pode ser percebida
por características exclusivas. Essa individualidade é determinada
por sua história de vida, sonhos, fantasias e até seus planos para o futuro”,
afirma a psicóloga Ana Maria Loffredo, do Instituto de Psicologia da USP.
O filósofo Alain de Botton, em seu livro Arquitetura da Felicidade, afirma
que nossos desejos e projeções se refletem na escolha do mais prosaico
abajur em uma sala de estar, na seleção das cores das paredes e, numa
escala maior, na arquitetura da casa ou apartamento. “A arquitetura pode
tornar vívido para nós quem poderíamos idealmente ser”, afirma o filósofo
suíço. Essa idealização tem seu ponto de confluência na identidade
cultural, uma identidade cada vez mais impalpável devido à globalização.
“Não porque essa identidade não exista, mas porque, toda base cultural é
complexa”, pondera o arquiteto e crítico chileno Cristián Fernández Cox,
autor do livro América Latina Nueva Arquitectura. Nesse caldeirão de referências
culturais da atualidade, é bom ter como porto seguro o estilo de
um profissional experiente. O arquiteto Sig Bergamin, em seu livro Adoro,
declara que a casa é um refúgio: “Um lugar de intimidade que deve ser
tratado com o mesmo respeito que tratamos uma igreja. Em casa somos
deuses em repouso, é nosso Olimpo particular, em que cada um reina conforme
sua vontade”. Para ele, toda casa deve contar uma história de vida,
uma história das pessoas que moram nela. “Mais bonita ela fica quanto
mais pessoal for”. O segredo da identidade de uma casa está em fazer
com que elementos disparatados pareçam complementares, estejam no
lugar e no contexto correto. Ensina o talentoso Bergamin!
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ilustrações paula gabbai