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Não provoque

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Por Allex Colontonio
fotos Romulo Fialdini

 

Cool na medida exata, o apartamento da jornalista Silviane Neno traz suas digitais nas fotografias, nos garimpos de viagens, nos bons amigos que enchem a casa e nas paredes rosa-choque



A mulher que atende a porta tem um rosto familiar. Fina, despojada e dona de uma gargalhada que ecoa no quarteirão vizinho, ela transita na dobradinha fashion-décor com crachá VIP. Mezzo colunista social, mezzo editora de lifestyle – e jornalista poderosa por inteiro –, Silviane Neno, paraense de Belém muito bem radicada (e enturmada) na Pauliceia, quase não para quieta. Entre o expediente puxado na revista Istoé GENTE, vernissages, inaugurações, petit ou grand comités e muitas andanças pelo mundo, o porto seguro há quase 15 anos é esse apartamento em prédio cinquentinha de Higienópolis, endereço que divide com o filhote Gustavo – como ela, corintiano roxo. Aliás, Silviane parece estar alguns tons abaixo na escala dos lilases, como sinaliza o pink que salta aos olhos em detalhes aqui e acolá. “Sonhava com uma casa em cinza e preto, mas escolhi o rosa para quebrar essa rigidez”, conta. Sem excessos, o tom passeia pontualmente pelo fundo sóbrio, das poltronas imperiais à sala de TV, em efeito racée, atual, cosmopolita. Tão sensual e feminino que poderia ser o apê de uma outra jornalista: Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker em Sex and The City. Ao cruzar o átrio – cujo pórtico ganhou adesivo de Martin Margiela –, a parede de tijolos caiados ajuda a fazer o clima “Big Apple” com a voz de Billie Holiday que brota do iPod. “Silviane queria uma parede rústica como as dos lofts de Nova York, que adora. Quando preparamos o cantinho para pendurar o quadro-xodó dela, uma tela de Cícero Dias, descobrimos que os tijolinhos sempre estiveram ali. Foi só descascar”, conta Bernadette Pasqua, arquiteta responsável pelo extreme makeover que derrubou paredes, integrou espaços e transformou a cozinha em estação gourmet com painéis de drywall que isolam ou inserem a comedoria no contexto social – a dona do pedaço frequenta a casa de muita gente, que costuma retribuir a visita para se deliciar com quitutes como sopa de abóbora com especiarias e pato no tucupi. Nessa frequência estão os povos da moda, das artes e da decoração, como André Lima, Isabella Giobbi, Beto Lago, Amir Slama, Simone Monte e Raquel Silveira. “Gosto do jeito que ela recebe, com aquele astral divertidíssimo e rodeada de bons amigos. Sem falar nos cardápios com delícias de Belém”, conta o artista plástico Gustavo von Ha, outro habitué.

 

 

 

O cheiro da casa, um tanto amadeirado, outro tanto cítrico, também é familiar. “É o aroma do grupo Costes. Fiz dele a identidade olfativa do meu espaço”, justifica sobre demarcar o território tal e qual uma leoa faz com seu perímetro na savana. Algumas pitadas africanas, como o tapete de zebra e a cabeça de kudu da Stiledoc, incrementam o mood étnico.

 

 

 

Esse décor plural, cheio de referências e absolutamente aconchegante, teve consultoria grifada de Beto Galvez, que junto com a sócia Nórea de Vitto forma o duo mais batuta do high-décor brasiliano. “Sou muito amigo da Sil e dei algumas sugestões na paleta e nos tecidos do apê. Saímos juntos algumas vezes e escolhemos tapetes e objetos da minha coleção, como o abajur com base de cristal de rocha e as banquetas de onça”, conta Galvez. Foi ele também o responsável por armar a cena do bar, um cantão com aparador do designer Guilherme Torres e a maxifoto de Simone Monte sobre espelho que duplica o tamanho do living.

 

 

 

Nesse compêndio entram sedas e linhões customizados, cerâmicas ópticas de Fabrizio Rollo, garimpos de antiquários e viagens – “Já entrei no avião com toda a sorte de traquitanas” –, móveis de época – “a cômoda e a mesa art déco me acompanham desde outros carnavais” –, obras dos amigos artistas – “Tenho muitas coisas do Von Ha e da Simone” – e por aí vai. Pelas paredes (tanto as rosas quanto as cinzas), Sebastião Salgado, Rochelle Costi, Caribé, Hércules Barsotti, Marinaldo Santos, Peticov, Simões, Leonilson, Manuel Santiago, Isabelle Tuchband, Luiz Braga, Claudia Guimarães, Ancar Barcalla, Julia Moraes e André Schiliró. E um corredor-relicário que conta sua bio, desde bilhetes de odisseias de trem pela Transiberiana, na Rússia, a recortes da infância no Pará. “Meus avós moravam num casarão em Belém – na cabeça de uma criança, um palácio. Me deitei na cama um dia e decorei, mentalmente, a casa inteira – com direito a uma boate no porão. Me ligo muito nas coisas da casa desde aquela época e trouxe isso comigo. Adoro mexer, arrastar, trocar tudo de lugar”, diz ao apontar uma das fotos levemente sépia. Nela, aparece aos 7 anos de idade, ao lado da família muito bem aprumada e de músicos como Sebastião Tapajós, Zimbo Trio e a fadista portuguesa Amália Rodrigues. Era a inauguração da loja de móveis do avô, em Belém. No caso de Silviane, moda, décor e social, são coisa de berço, mesmo.

 

 

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