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Hipercubo concreto

Hipercubo concreto


Em São Paulo, a caixa cúbica assinada por Marcio Kogan valoriza o rigor arquitetônico do volume com materiais aparentes e se abre para o jardim com ares de oásis urbano

 

Por Allex Colontonio Fotos por Nelson Kon e Fernando Guerra

 

 

Cravada num lote bacana em zona movimentada da selva de pedra paulistana – entre árvores frondosas que nem sempre filtram o visual pastiche da vizinhança, com aquela babel arquitetônica cara aos bairros ditos sofisticados – essa casa cubo é quase um oásis modernista, um ponto de respiro na confusão da paisagem. E consegue o feito sem exibicionismos ou extravagâncias, do alto de sua simplicidade plástica e rigor funcional. “A casa é um volume cúbico perfeito. Construída com materiais aparentes como o concreto e as chapas metálicas perfuradas, seus interiores
foram projetados com o mesmo espírito. O mobiliário fixo foi executado com fórmica branca, colaborando com a pureza
dos volumes”, explica Marcio Kogan, cabeça do Studio MK27 e um dos alicerces da melhor arquitetura contemporânea
brasileira com eco internacional – são projetos premiados que transbordam o estilo oxigenado de Kogan: contenção, equilíbrio, modernidade e trabalho em equipe, já que ele nunca leva o crédito sozinho.

 

 

Nessa obra, seus comparsas do MK27 – Suzana Glogowski (co-autora), Henrique Bustamante, Anna Helena Villela (colaboradores) e Diana Radomysler (co-autora de interiores) – fizeram emergir no terreno uma caixa ultrabásica, seca, em volume único, marcada pela robustez dos materiais aparentes (o cimento e a caixilharia metálica, em efeito naturalmente futurista, sem folclores tecnológicos). A caixa purista foi então cuidadosamente recortada por aberturas generosas que ganharam painéis vazados que dosam a privacidade e projetam uma luz natural rendada nos interiores – pura poesia.

 

 

 

Aberta para o jardim como uma grande varanda armada sob um vão livre, a área social, no térreo, pode ser um pavimento totalmente fechado ou semi-outdoor, ao bel-prazer dos moradores. O mesmo esquema dos painéis sobe pelos dois andares superiores que abrigam escritório e as áreas íntimas, o que garante luz, ventilação e vista bastante generosos, de qualquer ponto da morada.

 

 

 

Em contraste com o brutalismo das matérias-primas, o piso é sempre o plano mais adornado dos ambientes, já que recebeu texturas e desenhos numa releitura up-to-date dos ladrilhos hidráulicos aplicados nas casas de antigamente. “Todo o térreo teve seu piso desenhado exclusivamente para a casa, um padrão geométrico circular, uma estampa dinâmica que ressalta o plano horizontal. Por cima, um tapete tibetano de restos de seda colorido completa essa ideia e delimita o espaço do living”, diz o arquiteto. O décor traz bambas do design do século 20 como Charles Eames e Jean Prouvée ao lado de seleção atualíssima caprichada, pinçada de pranchetas como Patricia Urquiola, irmãos Bouroullec, Tom Dixon e Paola Lenti. “Para que o diálogo espacial entre interior e exterior não fosse quebrado por grandes massas construídas, o mobiliário solto é sempre baixo ou com transparência, permitindo a fluidez do olhar, que pode assim percorrer toda a área”, arremata Kogan.

 

 

 

De fora para dentro, a lógica é a mesma. O monólito de cimento voltado para os contornos verdes de Isabel Duprat fica
ainda mais intrigante. “O projeto de paisagismo é um contraponto ao cubo de concreto. A vegetação com liberdade, quase rebeldia, envolve a arquitetura e os muros, criando uma ambiência de intimidade e aconchego do jardim. Folhagens com exuberância, diferentes tons de verde, formas e texturas, percorrem o chão sob as árvores e palmeiras que se harmonizam com a escala da casa. A piscina é uma linha d’água sangrando o jardim em toda sua extensão”, explica Isabel. Simplicidade ao quadrado, beleza ao cubo.

 

 

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