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A pele que habito

A pele que habito

 

Por Flávio Nogueira

 

Como uma segunda camada, a caixa de vidro que encapsula este prédio público confere contraste ímpar em meio à arquitetura medieval da comuna de Zamora, Espanha

Zamora, pequena ciudad ao norte da Espanha, é quase amor à primeira vista. Atopetada por história, arte, cultura e arquitetura, trafegar por suas alamedas centenárias é como voltar ao passado. Levantar qualquer bloco por ali exige muita sensibilidade, afinal, não dá pra destoar das linhas construídas entre os séculos 11 e 12. Por outro lado, é fundamental que uma obra edificada no terceiro milênio tenha reflexos de sua era, com o uso de materiais, formas e linguagem contemporâneos. É assim que a arquitetura ajuda a escrever a história da humanidade. E foi exatamente isso que o ás do compasso espanhol Alberto Campos Baeza preparou para a reforma da sede da Junta de Castilla y León – órgão público que administra a urbe – no charmoso cruzamento entre a calle Alcañices com a plaza Antonio del Águila. No projeto, que durou quatro anos para ser erguido, entre 2008 e 2012, ele recusou qualquer solução de mimetismo ou imitação da construção local e alvitrou uma espécie de caixa de pedra com paredões que remetem às muralhas da China. “Seguimos o contorno do jardim do antigo convento, elevando o muro de pedra a céu aberto. E tanto as paredes quanto os pisos são das mesmas rochas da catedral centenária da cidade”, conta Ignacio Aguirre López, colaborador de Baeza. Do lado de dentro, a surpresa é ainda maior: uma espécie de estufa com sotaque minimalista, alcatifado com lâminas de vidro de aproximadamente 6 x 3 metros, unidos apenas por uma fina camada de silicone, simples e sem costura. O pano transparente duplo, como uma segunda e terceira peles, tem sistema ativo para controle da temperatura que utiliza fluxos de ar para armazenar o calor no inverno e amenizá-lo nos dias mais quentes do ano, de acordo com as regras do Código Técnico de Construção do País – primeiro da Europa a incentivar a obrigatoriedade do uso de energia solar nos edifícios.

 

 

O terreno tem vastos 12 mil metros quadrados. Do lado de fora é comum confundir o lugar com um museu ou uma galeria de arte contemporânea, quiçá uma fábrica. Só de área construída são cerca de 4 mil metros quadrados, divididos em quatro pavimentos que abrigam, além dos espaços de trabalho, salas de reuniões e uma biblioteca. No interior, a luz natural invade cada centímetro, conferindo uma atmosfera arejada nos amplos ambientes e reforçando a continuidade visual que só é interrompida por pequenos pilares cilíndricos. Não deixando dúvida quanto à herança modernista na pele arquitetônica, seja pelos materiais, pelos traços ou uso de tecnologia.

 

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