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Fio da meada

 

Designers resgatam o crochê e o tricô para criar acessórios e mobiliários up-to-date

POR FLORA MONTEIRO

Fio da meada

A tecnologia automatizou o cotidiano. Na era high-tech, apertar o botão ou deslizar o dedo sobre a tela são meios para todos os fins. Rapidez e eficiência, palavras de ordem. A lei do mínimo esforço grita. O relógio é o nosso maior inimigo. A lógica consumista faz todos comprarem e descartarem por inércia. Em oposição a esse cenário, um surpreendente movimento de resgate do labor manual urge e se impõe como forma de resistência ao ritmo desenfreado do mundo moderno: o tricô e o crochê estão de volta, tramando muito além de cobertores, pulôveres e cachecóis. Os passatempos de nossas avós estão agora – mais do que nunca – a serviço de um décor descolado e contemporâneo e vestem de paredes a canecas, passando por luminárias e pufes.

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“O artesanal está sendo super- valorizado pelo mercado e pela indústria moveleira. O crochê e o tricô tornam os produtos únicos, imprimem a identidade de quem os fez e agregam valor à peça, por isso estão sendo mais aproveitados não apenas na confecção de roupas, como também na criação de mobiliários”, conta a arquiteta Tina Moura, que junto com a irmã Lui Lo Pumo, faz, desde 1996, um trabalho consistente de junção do design e do artesanato. Com mais de 140 projetos com comunidades e artesãos ao redor do globo e, principalmente, no Brasil, o designer e tecelão Renato Imbroisi também sente a mudança. “Os jovens estão explorando mais as técnicas de costura e do fazer à mão. Essa postura é bastante importante no combate à produção em massa e na valorização da humanização dos processos”, diz ele.

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Com novos tipos de lãs, fios mais sofisticados, linhas de diferentes espessuras, um leque maior de cores e pontos pra lá de ousados, designers estão aperfeiçoando o milenar “tricotar” e “crochetar” – não se sabe ao certo quando e onde as técnicas nasceram, mas pesquisadores defendem que elas são originárias do ano 1700, podendo ter surgido tanto na Europa como na América do Sul e na Ásia – e criando mobiliários modernosos e elegantes. “Com mais opções de material, podemos dar às peças um ar bem contemporâneo, colocando-as fora da classificação ‘coisa de vovozinha’ e as transformando em objetos de desejo”, diz a estilista Anne Galante, que terceiriza os seus dotes com as agulhas desenvolvendo, além de seus próprios produtos, móveis para designers e arquitetos – Arthur Casas está entre eles. As vantagens do trabalho com crochê e tricô são apontadas também pelas polonesas Katarzyna e Monika Gwiazdwska, do estúdio Monomoka, que criaram, há seis meses, peças dignas de respeito na categoria design-artsy. “A lã nos dá flexibilidade de criação e quase infinitas possibilidades de execução das nossas ideias”, explicam elas.

Em outras frentes, as tramas e os novelos também mostram sua força indo das esculturas de crochê da artista plástica Carolina Ponte – obras que elevam a tradição e o fazer primitivo à alta cultura e ajudam a consagrar a integração do high-art e do low-art nos novos rumos da arte contemporânea – às intervenções urbanas que cobrem com linhas coloridas trens, ônibus, estátuas e árvores mundo afora. O movimento, batizado de Yarn Bombing (bombardeio de fios), tornou-se fenômeno global e chama a atenção para a importância do hand made e da humanização de produção. No ano passado, a brasileira Letícia Matos, do projeto 13 pompons, trouxe a prática para cá e, vira e mexe, colore com suas agulhas e lãs capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Goiânia. “Aproximo as pessoas da arte e dos trabalhos manuais por meio de um processo efêmero de grafitar com linha. Quero resgatar o apreço a modos de vida simples”, conta ela.

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