decoração
Filho de pai arquiteto e artista plástico, e de mãe com formação
em restauro pela Fundação Ricardo Espirito Santo, Tim
Madeira cresceu entre cavaletes e pincéis, fazendo semanalmente
visitas obrigatórias aos museus portugueses. Nascido
em Lisboa em maio de 1955, educado num contexto familar
culturalmente fervilhante, ele desde cedo se habitou a brincar
livremente com cores e materiais. Começou jovem suas
viagens culturais pela Europa, especialmente entre os anos
de 1968 e 1972. E até hoje viajar é uma de suas maiores
paixões. “É fonte de inspiração para muitas de minhas criações.
Sinto uma atração especial pela África, onde fi co
completamente encantado com os brinquedos feitos pelas
crianças. Construções com embalagens de desodorantes ou
latas, é incrível a criatividade das crianças africanas”, declara,
admirado. E de cada viagem ele traz riquezas muito pessoais:
lembranças, novos amigos e a bagagem cheia de artesanato
e de objetos que o conquistam defi nitivamente.
Não é à toa que sua casa é seu retrato. Decorada basicamente
com mobiliário de família, o conjunto é o mais puro
refl exo da sua forma de estar na vida. Recusando estilos e
250 m2 decorados
ao sabor da
vontade. “As idéias
não me surgiram
de forma esquematizada.
Não houve
um código de cores
nem sabia onde iria
encaixar determinadas
peças. Só
obedeci à minha
intuição, ao meu
gosto.”
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padrões predefinidos, ele ressalta sua escolha: “Passado,
presente e futuro. Todas as peças que compõem minha casa
têm um significado. Sei exatamente de onde vieram.” Àquelas
compradas, trocadas, oferecidas e de família, Tim Madeira
junta muitas outras que encontra. “Não me importo de recolher
velharias da rua. Tenho o culto do objeto, guardo tudo.
Encontro sempre uma solução para renovar, tornar uma peça
diferente. Deitar fora é um ato que desconheço”, confessa ele
em bom português.
Apesar dos sentimentos que o unem a tantos objetos, Tim
Madeira não teve dificuldade em eleger os que o acompanhariam
para o resto da vida.“Se tivesse de ir embora só levava
três fotografias: a do meu pai, da minha mãe e da minha
irmã. De resto não levava mais nada para não ter de escolher.”
Sensato, ele confia no seu poder de recriar. E sabe que seria
capaz de recomeçar.
Na outra página, o hall exibe o lustre de teto Único, criação do dono da casa. Junto ao baú de família, a mesinha antiga apóia um
cisne da Real Fábrica do Rato, que veio da casa dos bisavós. A cítara foi comprada em antiquário. Na parede, cesta redonda da
Namíbia e aquarelas de Eduardo Santos Guada. Acima, em um dos três quartos, paredes com profusão de quadros e fotos.
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