design perfil
por claudia ferraz
fotos denise andrade e juan guerra
viagem pela obra
de roberto sambonet
Aqui, três marcos de Sambonet: frigideira de
tampa com dobradiça, de 1955; meios vasos
em bases semicirculares (Seguso), de 1979;e,
abaixo, Garoupa, para a parisiense Baccarat.
Ele tem obras no MoMA de Nova Iorque e em outros museus do
mundo. E agora, pelas cinco salas de exposição temporária do Museu
da Casa Brasileira, mais de 400 itens, entre objetos, gravuras e
pinturas, marcam o retorno de Sambonet ao país, celebrando suas
criações como artista plástico e designer gráfi co e industrial. “Ele é
um dos grandes nomes do design italiano do pós-guerra, e foi muito
infl uenciado por sua temporada no Brasil, onde fez a descoberta
da fl ora, da fauna e do nosso artesanato junto com Lina Bo Bardi”,
diz Fábio Magalhães, co-curador da mostra. Magalhães conta que
Sambonet era fi lho de uma família de industriais da área metalúrgica,
que produzia panelas e talheres. “Começou fazendo um novo design
para estas peças. Reformulou as embalagens e toda a identidade
visual da pequena empresa, que prosperou com peças de qualidade
e design original.” E cita duas das mais famosas peças de Sambonet:
a panela Peixe, de 1957, que conquistou o Prêmio Compasso
d’Oro 1970; e o conjunto de copos de vidro para água, vinho branco
e vinho tinto, que por fora eram de tamanhos iguais. “Estes copos
são uma referência no design mundial”, destaca Magalhães.
“Trazê-lo hoje ao Brasil não foi uma escolha casual, porque
foi justamente no Brasil que teve início sua longa pesquisa”,
ressalta o curador da exposição “Roberto Sambonet
– Do Brasil ao Design”, Enrico Morteo,
arquiteto, crítico e historiador de design italiano.
“A representação foi seu instrumento
de investigação: com
o desenho, trouxe à tona a
geometria das estruturas,
registrou as diferenças e
as particularidades que
distinguem cada caso.”
Foi decisiva para a trajetória do artista plástico e designer italiano sua temporada no Brasil. Em São Paulo,
uma exposição resgata este tempo e atualiza a importância de Sambonet no cenário do design do século 20.
talento múltiplo
Na história do design italiano, Sambonet é um dos destaques
do século 20. “Ele usou a forma como pretexto
evocativo porque sabia que a função nunca vem desprovida,
mas coberta de intenções, usos, lembranças, possibilidades”,
diz Morteo, completando: “Uma forma simples
é sempre mais versátil porque deixa espaço para novas
interpretações, assim como trabalhar em módulos permite
inventar funções inesperadas”.
Além do intenso envolvimento cultural, Sambonet trabalhou
como consultor para grandes empresas, como a La
Rinascente, loja de departamentos da Itália, e na área da
concepção de vidros e cristais, atuou em marcas como
Baccarat, Seguso, Murano e Tiffany, além da Bing &
Grondhal, de porcelana. Foi ainda consultor em design
gráfico na Pirelli, na Alfa Romeo e Renault.
Como artista plástico, pintava retratos e paisagens. Com
uma técnica clássica e um estilo pictórico oitocentista,
Sambonet encarou o retrato com absoluta modernidade.
“Trabalhou as características individuais extraindo do sujeito
os sinais de uma identidade única, por vezes secreta”,
analisa Morteo, ressaltando: “Observador, retratista, viajante,
designer gráfico: só a circularidade de sua pesquisa
restitui a riqueza a seu percurso criativo.”
Nesta página, copos de 1971 para a
Baccarat; conjunto de pratos de 1974; e
convite para desfile de moda, de 1952.
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o período no brasil
No final da Segunda Guerra, Roberto Sambonet (1924-1995) era um jovem
pintor boêmio numa Itália em reconstrução. Foi quando veio para o Brasil,
onde viveu de 1948 a 1953. Ficou muito próximo de Lina e Pietro Maria Bardi
na época da fundação do Masp, onde também deu aulas de artes gráficas
e estamparia no extinto Instituto de Arte Contemporânea. Fez cartazes para o
Masp e para o 1º Desfile de Moda Brasileira. Este tempo no Brasil o motivou
para uma mudança de perspectiva. “Do jovem pintor que partira, Sambonet
agora retornava artista e designer”, pontua Enrico Morteo.
Durante seus cinco anos aqui, ficou amigo do psiquiatra Edu Machado
Gomes, que lhe deu permissão para frequentar por seis meses o
manicômio de Juquery, com 15 mil internos, a 50 quilômetros de São
Paulo. Ali, Sambonet conduziu uma exploração pessoal dos territórios
da doença mental. Em Milão, publicou entre os anos 1960 e 1970 o
livro “Juqueri, Esperienza Psichiatrica di un Artista” ou “Della Pazzia”
(Da Loucura), com a série notável e desconcertante de desenhos que
fez, tendo como tema os pacientes do manicômio. Em 1982, Sambonet
retornou ao Brasil e fez uma viagem ao longo do rio Amazonas, que
resultou num ciclo vibrante de aquarelas. K
Visite até 15 de março
“Roberto Sambonet – Do Brasil ao Design”, de terça a domingo, das 10 às 18 horas, no Museu
da Casa Brasileira, avenida Faria Lima, 2705, (11) 3032 3727, Jardim Paulistano, São Paulo.
O Museu de Arte de São Paulo convida-o para assistir a primeira apresentação da MODA BRASILEIRA realizada nos ateliers e nas escolas do museu, em colaboração com a casa anglo-brasileira, por um grupo de artistas, industriais e artesãos brasileiros, na certeza que o nosso país, assim como projetou internacionalmente a sua arquitetura poderá também trabalhar pela criação da Moda brasileira
Museu de arte, rua 7 de abril, 230, dia 6 de novembro, às 17 horas.