Da cor dos seus olhos

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Estilo de vida

Em fase azul como suas íris, sua camisa, sua piscina e o horizonte à sua frente, um dos Big Five da arquitetura de interiores do Brasil mostra a nova encarnação do seu apê especialmente para KAZA

Por ALLEX COLONTONIO FOTOS ALAIN BRUGIER

ROBERTO MIGOTTO VIVE uma fase mais azul. Isso se reflete tanto na busca por dias mais calmos em seu cotidiano frenético, nas noites mais caseiras a bordo de um bom livro e de uma taça de vinho no sofá, em projetos como o refúgio “Klein” que ajudou a levantar a edição 2013 da Casa Cor. E na profundidade dos seus olhos, é claro. Também é a cor da piscina onde encontra sombra e água fresca e do horizonte que quase consegue alcançar com a ponta dos dedos na sua townhouse, um pedacinho de terra – e de céu – só dele, num bairro arborizado de Sampa, a poucas quadras do seu escritório. Migotto mudou-se para o apê dez anos atrás, após um extreme makeover radical que converteu cozinha em sala de jantar, quarto em escritório, corredor em escada, varanda em oásis e um imóvel cartesiano de quatro suítes numa belíssima e contemporânea casa ampla e arejada, completamente aberta para a cidade, que diz muito sobre o seu morador em cada metro quadrado. E que vai acompanhando a sua evolução pessoal. “Casa de arquiteto está em constante transformação”, diz.

Em geral essas mudanças refletem o viço e o flerte inabaláveis que mantêm com o próprio ofício, mesmo após quase 30 anos de carreira, e que o colocaram no Olimpo do décor brasileiro. “Adoro o que faço e invisto muita energia nisso.” A estante da sua biblioteca, por exemplo, veio de um de seus ambientes numa mostra de decoração anos atrás. O tapete do living, que trouxe de fora e amargou meses embrulhado na alfândega, foi encomendado para o seu ambiente do ano passado da Mostra Black. “Não foi liberado a tempo de usar lá, mas ficou bem melhor aqui em casa”, brinca. Migotto fala com propriedade sobre cada obra de arte pendurada na parede e cada objeto que o olhar alcança. “Esse lustre Império é uma paixão antiga. Anos atrás ele encabeçou uma exposição sobre o movimento na Faap”. Também aponta as fotos de Mario Cravo Neto, a escultura de Emanuel Araújo, as pinturas de Ianelli, um par de poltronas Le Corbusier inacreditáveis que ele revestiu com veludo Ralph Lauren roxo. Há também objetos especiais como a mesa de jacarandá dos anos 1940 que virou bar, sofás italianos da Maxalto, uma mesa de acrílico da Érea e outras peças da mais fina alfaiataria, que o arquiteto costura entre si como poucos.

A escada escultórica desenhada por ele é o elemento central desse dúplex de espaços integrados e fluidos, onde o branco das bases e as pinceladas de cores aqui e acolá equacionam o clima de calmaria e vibração que fazem a cabeça do esteta. O pergolado de madeira desemboca no seu oásis privé, onde o jardim e a piscina fazem um contraste zen com a cidade que acontece em 360º. Detalhe curioso: na frente do único prédio que obstruía sua vista, um espelho foi posicionado para refletir o horizonte oposto, num efeito moderno e de grande sensação, especialmente à noite. Migotto também costuma correr por ali, aproveitar o bairro, viver intensamente o contexto urbano da cidade que o cerca. Quando volta, as mascotes Aurora e Benta, duas Jack Russel, não lhe dão sossego. Pertinho dali, no seu escritório, à frente de seis equipes, assina projetos múltiplos que estão entre os objetos de desejo da categoria no mercado AA. Nos croquis, tem desde haras nas Minas Gerais a apartamentos em Miami e Nova York. Com fama de boa-praça e generoso, seu escritório também já revelou talentos promissores desta geração, como Adriana Helú, da Triplex Arquitetura, e Diego Revollo. “Sempre admirei a sofisticação e o depuramento estético presentes nos projetos do Roberto. Trabalhando com ele tive acesso ao seu profissionalismo como também com o lado humano. É um grande amigo e minha principal referência na área”, diz Revollo.