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Meu pé de pequi

 

Em Louveira, Hugo França, um dos nossos designers mais incensados, finaliza os móveis que fazem sucesso nos museus de Nova York, nos jardins de Inhotim e na casa de personalidades, como Will Smith

Por Cynthia Garcia / Fotos Alexandre Pirani

Meu pé de pequi

Hoje, tenho a logística para transportar as peças, mas no começo tínhamos que armar cada arapuca...”, lembra bem-humorado o designer Hugo França, escultor de peças únicas em madeira pequi, que chegam a pesar mais de uma tonelada, como as que estiveram expostas, ao longo deste ano, no MAD Museum, em Nova York, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Art Rio, entre outras exibições portentosas. Em dezembro, ele ainda fechará o ano com duas mostras na Flórida, uma com 25 obras no Fairchild Tropical Botanic Gardens, em Coral Gables, a outra na Design Miami no estande da R 20th Century, galeria que o representa nos Estados Unidos. Colecionadores brasileiros e estrangeiros, do ator Will Smith ao emir do Catar se encantam com a obra desse ex-hippie, criada a partir de resíduos florestais (árvores mortas) que são transformados em mobiliário de arte.

Meu pé de pequi

Com tronco de três metros de largura e altura de 40 metros, o pequi vinagreiro é um colosso da dadivosa natureza brasileira. Nativo do sul da Bahia e do Espírito Santo, chega a viver doze séculos, mas sua extinção está em marcha. “Sua fibra densa possui resina impermeabilizante resistente ao tempo, ao fogo e à umidade, por isso é usado pelos pataxós para suas canoas cavadas no tronco”, explica França. Por ser uma madeira difícil de ser trabalhada, não se adapta às manufaturas tradicionais, justamente as singularidades que vêm à luz na obra do designer, que utiliza somente árvores calcinadas, vítimas do desflorestamento brutal. “Às vezes, levo três meses em busca da peça que preciso”, revela.

Meu pé de pequi

O ex-engenheiro, que largou tudo para viver um tempo no sul da Bahia, aprendeu o ofício com os pataxós. Montou uma barraca de pizza na Praia dos Nativos onde, nas horas vagas, passou a entalhar o pequi. Sua primeira peça – uma pia –, foi para a casa do dono da cachaça Sagatiba, Marcos de Moraes. O ano era 1991. Com as encomendas, montou um ateliê em Trancoso, o principal até hoje, onde tem dois galpões de 2 mil metros quadrados e três hectares onde estoca o pequi ao ar livre. “Quem cuida é o Nau. Seu tio de criação é o vice-cacique da tribo”, explica França, que tem seis funcionários na Bahia. Para o ateliê em Louveira, que você vê nessas fotos, a uma hora e meia de seu showroom na capital paulista, ele trouxe de lá o artesão José para gerenciar os dois galpões de mil metros quadrados. Como no santo casal, José é casado com Maria, a entalhadora das miniaturas. O filho Eriel cursa administração e trabalha com os pais: “Gosto daqui porque não tem rotina e o resultado do trabalho é lindo”, diz o bonito rapaz de 20 anos de ascendência pataxó.

Meu pé de pequi

Uma vez por semana, quando não está em viagem, o designer baixa no galpão em Louveira. Lá, peças de todos os tamanhos passam por ferramentas como makita, enxó, formão, plaina e lixadeira para depois receberem camadas de verniz finalizadas com jatos de pistola d’água. Outra ferramenta fundamental, aponta França, é o guindaste Munck. “Aqui, tenho esse para três toneladas, em Trancoso temos um de 12 toneladas”, explica o cara que dá sobrevida ao pequi levando sua majestade brasileira para o mundo do design e das artes.

 

hugofranca.com.br

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