entrevista
claudia andrade
foto Mila Maluhy
doutora
em
escritórios
Arquiteta e doutora pela FAU-USP, Cláudia Andrade é sócia do escritório Saturno Arquitetos Associados, sediado em São
Paulo; e autora do livro A História do Ambiente de Trabalho em Edifícios de Escritórios – Um século de transformações,
publicado pela editora C4. Pesquisadora e projetista, Cláudia é uma verdadeira especialista na concepção de layouts de
ambientes contemporâneos para empresas de grande e médio porte. Nessa entrevista exclusiva para KAZA ESPAÇOS
CORPORATIVOS, a arquiteta fala de sua trajetória profissional e das principais tendências na configuração dos espaços corporativos
nesse início do século 21
Quando e como você decidiu especializar-se em projetos para
ambientes corporativos?
Foi interessante a trajetória. Trabalhei em diversas áreas. Fiz arquitetura
de edificações com o arquiteto Severiano Mário Porto,
depois arquitetura hospitalar (e quase me especializei nisso),
mais tarde surgiu um convite para cobrir férias de uma amiga no
extinto Banco Nacional. Lá descobri a dinâmica dos bancos e
todo projeto tornava-se tangível muito rápido e, para completar,
estava mais próxima do cliente que era a própria organização.
Então tudo isso que passei a viver profissionalmente revelou o
que eu gostava de fazer realmente.
Há quantos anos você está à frente do escritório Saturno Arquitetos?
Há quatorze anos. O escritório é um pouco diferente dos demais
escritórios de projeto. O Saturno foi criado para auxiliar as
empresas em todo seu processo de organização física. Somos
contratados em situações bem particulares. Um exemplo recente
é o de um cliente que pretende mudar de lugar, mas ele não
sabe quantos metros quadrados a empresa necessita, qual a infra-
estrutura que será necessária, a tipologia do edifício... Então
nós fazemos tudo: a avaliação e diagnóstico da situação atual,
dimensionamento das necessidades do cliente, plano diretor do
edifício, analisamos os diversos prédios que a consultoria imobiliária
nos fornece, para sabermos o que há de oferta no mercado.
A partir dessa etapa analisamos os edifícios pelo aspecto
financeiro e técnico. Apresentamos as opções disponíveis para
o cliente. Após a escolha da edificação, fazemos todo o planejamento
de ocupação da empresa e a padronização que tiver que
ser feita. O projeto é a última etapa.
Casos como esse são comuns no mercado atual?
Na maior parte das situações os nossos clientes nos contratam
nessa etapa inicial e esse processo culmina no projeto. Já o cliente
de porte pequeno – uma empresa de 1000 m2 a 2000 m2
– geralmente nos contrata para fazer o projeto e fazemos um
breve planejamento.
Esse ritmo de emergência facilita ou dificulta o seu trabalho?
O escritório é especializado nesse tipo de atendimento. Atuamos
para empresas grandes. No ano passado atendemos uma
corporação de 30 mil m2. Eu fiquei dez anos dentro da universidade
estudando isso. Fiz mestrado e doutorado nessa área de
avaliação e desempenho. É uma característica do escritório. Dá
muito trabalho e também muita dor de cabeça (risos). A gente
faz isso de forma sistemática. Houve muito investimento intelectual
para atuar nesse segmento.
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www.kazaespacoscorporativos.com.br
A arquiteta Claudia
Andrade acredita que
um laytou bem resolvido
de um espaço de trabalho
pode aumentar a
produtividade de uma
empresa. No detalhe,
escritório com biblioteca,
projetado pelo OMA –
Office for Metropolitan
Architecture, em Bordeaux,
na França
No começo da década de 2000 você foi curadora da mostra
Escritórios do Futuro. Como foi feita essa pesquisa e quais as
descobertas mais interessantes retratadas na exposição?
Não houve uma pesquisa específica para a mostra. Os organizadores
me contratam porque sabiam do meu doutorado e que há
bastante tempo pesquisava o ambiente de trabalho no Brasil. O
universo da minha pesquisa de doutorado eram as cem melhores
empresas para se trabalhar no Brasil, um guia anual preparado
pela revista de negócios Exame. Entrei em contato com os
editores da revista porque precisava enviar um questionário para
essas empresas a fim de avaliar até que ponto essas empresas
investiam no seu ambiente físico de trabalho. Minha tese defende
o quanto o espaço de trabalho é um aspecto-chave para se
obter ganhos de produtividade.
Como se chegou naquelas soluções específicas para escritórios
do futuro?
Foram duas exposições em anos diferentes. A segunda mostra
foi mais interessante porque criei uma lista com os dez mandamentos
do escritório do futuro: como as empresas deveriam se
organizar para serem mais competitivas, para terem funcionários
mais criativos e inovadores, enfim, para atuar numa conjuntura
global que era muito específica do início do século 21. Apresentei
os dez mandamentos e exemplifiquei todos em espaços
corporativos.
O que é mais importante para um projeto bem resolvido de um
espaço corporativo?
O interessante em todo projeto corporativo é que ele é um reflexo
da estratégia de gestão das empresas. O ambiente físico
de trabalho sempre refletiu, reflete e irá refletir a estratégica da
empresa e sua cultura organizacional. Nem é preciso ser um
arquiteto ou um especialista na área para perceber o quanto
um ambiente de trabalho diz sobre a empresa. Ao observar o
seu layout podemos sentir o que aquela empresa quer ser no
mercado, qual o seu perfil, com é a estrutura organizacional, a
cultura dela. Se é uma cultura mais hierarquizada, uma empresa
mais tradicional, uma instituição mais rígida ou igualitária. Esses
símbolos ficam muito claros numa simples observação. Todo ambiente
de trabalho passa isso muito fortemente.
No seu livro (A História do Ambiente de Trabalho em Edifícios
de Escritórios, publicado pela Editora C4) você faz um histórico
do século 20 e uma análise das mudanças que a sociedade
sofreu e como os espaços corporativos foram acompanhando
essa modificação. Nesse começo do século 21 o que lhe chama
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