entrevista pedro herz
Certamente você já deve ter lido diversos autores. Tem algum
escritor favorito?
Apesar das diversas leituras, não tenho um escritor favorito. Acredito
que um livro costuma me atrair pelo meu estado de espírito.
Mas você é um leitor curioso.
Já me decepcionei e me encantei como todo leitor comum. Já
recomendei livros que gostei muito e já houve uma pessoa que
recebeu a minha indicação e considerou o livro ruim. Todo livro
tem uma personalidade própria e nem sempre bate com os nossos
gostos individuais.
Você lembra qual foi o primeiro livro que você leu?
Foi João Felpudo, de Heinrich Hoffman. Um livro infantil alemão,
traduzido para o português, que ganhei dos meus pais. Nem sei
se ainda existe uma edição atual em português.
Tem algum editor, em especial, que você admira?
O Brasil já teve muitos editores importantes. Entre os contemporâneos,
gosto muito do Luiz Schwarcz da editora Cia das Letras.
Ele conseguiu dar uma nova cara ao mercado editorial em
nosso país. De um modo geral, modernizou o setor de editoras
brasileiras, além de ter valorizado o design gráfico em seus lançamentos.
Como você analisa o fenômeno e sucesso de vendas da série
de livros Harry Potter? Certamente deve ter sido uma alegria
para todos os livreiros do mundo.
Eu conheci livros que fizeram um tremendo sucesso e, mais tarde,
adaptados para o cinema, o filme superava o livro. No caso
de Harry Potter vieram os livros e os filmes ficaram num patamar
de igualdade. De minha parte eu daria todos os prêmios possíveis
e imagináveis para autora, a inglesa J. K. Rowling. Tenho depoimentos
de pais que tinham filhos desinteressados em livros, mas
depois de Harry Potter tornaram-se leitores assíduos.
Como você é um experiente livreiro tem alguma explicação
para o sucesso internacional desse livro?
Acho que foi o universo que a autora criou. Um mundo de fantasia
que encanta todo tipo de criança. São poucos os adultos que
gostam dessa publicação, mas para as crianças tornou-se um
livro marcado para o resto de suas vidas.
Há uma nova publicação, no estilo de Harry Potter, prevista
para ser um sucesso?
Toda editora quer ter um novo Harry Potter, mas eu desconheço
um novo livro que tenha o mesmo apelo de vendas.
Por falar em sucesso de vendas, não poderia deixar de citar,
entre os escritores brasileiros, o fenômeno Paulo Coelho.
Eu o considero um verdadeiro embaixador brasileiro. Conheço
Paulo Coelho pessoalmente e respeito muito o trabalho dele.
Acho muito bacana o sucesso internacional dele. Na minha modesta
opinião, muita gente tem ciúme e acho natural que haja
mesmo. Quando alguém aparece muito, ganha destaque, seja
através de um livro, de um filme ou mesmo de uma peça de
teatro, sempre gera uma ciumeira geral. É até salutar ter esse
tipo de sentimento, pois as pessoas se aprimoram para atingir o
mesmo lugar, atingir o topo.
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O mercado de livros costuma ser cruel? Há muitos escritores
que tem um estilo literário admirável e não conseguem atingir
um público de massa.
Isso é um mistério. Se eu tivesse a resposta para essa pergunta
eu iria cobrar muito caro para vendê-la.
centro cultural
Existe uma fórmula para se tornar um livreiro de sucesso no
Brasil?
Acho que não há mistério. Basta ter um compromisso sério com
aquilo que você faz e com o cliente, mas não existe uma fórmula.
Creio em empresas eficientes, bem orientadas, que trabalham
com ética e assumem compromissos com seus clientes
internos e externos.
A transformação de sua livraria numa mega store, assim como
outros exemplos no mercado brasileiro e internacional, empurrou
o negócio do livro para um novo patamar. O que mudou no
mercado atual?
No meu caso, em particular, não tem nada a ver com essa coisa de
mega. Nós temos a mesma cara em todas as nossas unidades.
Mas houve uma reforma recente nos interiores de sua livraria.
Quais as principais modificações que ocorreram?
A gente evolui dia-a-dia. Temos a nossa história. Houve algumas
experiências mal sucedidas, como as lojas instaladas em
estações do metrô e uma unidade na PUC de São Paulo. Recentemente
decidimos crescer na vertical, ou seja, criando serviços.
Quando essa espinha dorsal estava bem fortalecida, no
final da década de 1990, começamos a abrir filiais.
Há um diferencial em sua rede de livrarias. Numa delas (sediada
no Conjunto Nacional, na capital paulista) há um teatro.
Desde a primeira filial que abrimos em 2000, no shopping Villa-
Lobos, há uma evolução na arquitetura, na linguagem, no design
e no branding da marca. Portanto, tudo evoluiu sem perder
a identidade. Quanto ao teatro, em todas as nossas unidades
temos um auditório. Na loja do Conjunto Nacional temos um
pé-direito alto que nos permitiu fazer um teatro. Eu acho que
são coisas complementares. A livraria não é apenas uma livraria,
é mais do que um estabelecimento comercial. Eu diria que ela
hoje está mais para um centro cultural. As pessoas que desejam
assistir uma peça pagam ingresso porque os atores, diretores,
autores e técnicos são remunerados, mas temos uma programação
absolutamente gratuita, como recitais de música ou palestras
em todas as unidades.
A música clássica também ocupa um lugar de destaque em
sua vida.
Sou um dos diretores da Sociedade Cultura Artística e, claro,
acompanho as temporadas de música clássica em São Paulo.
Gosto bastante desse estilo de música.
Para finalizar vamos voltar aos livros: qual foi a publicação
que o senhor gostou e indicou para um amigo que o odiou?
Foi Cem Anos de Solidão do Gabriel Gárcia Márquez. Indiquei
para uma viagem de um amigo e ele quase me atirou o livro na
cabeça quando voltou de férias.
A livraria em pleno
funcionamento:
um verdadeiro
centro cultural
com palestras,
tardes e noites
de autógrafos e
livros nacionais
e importados de
todo mundo