entrevista paulo lisboa
arquitetura sustentável
O vice-presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea), Paulo Lisboa, é uma referência
em sustentabilidade no Brasil. Nesta entrevista para KAZA ESPAÇOS CORPORATIVOS, ele garante que é possível
implantar soluções sustentáveis a baixo custo. Com pós-graduação em Negócios Imobiliários, há dez anos ele comanda
o escritório Paulo Lisboa Arquitetura, com mais de 400 projetos desenvolvidos, e que acaba de incorporar
novos serviços para oferecer uma solução integrada ao mercado: arquitetura, urbanismo e paisagismo.
Como surgiu sua paixão pela sustentabilidade?
Não sei exatamente quando surgiu. Mas em 1981, meu
trabalho de graduação na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Mackenzie foi sobre arquitetura
bioclimática. Ainda não se falava em sustentabilidade
e não estava claro para o nosso segmento que os
recursos naturais são finitos. No entanto, já existia em
mim o desejo de produzir uma arquitetura baseada em
soluções amigáveis para criar conforto.
Como pode ser definida a sustentabilidade em
arquitetura?
O tripé da sustentabilidade, chamado triple botton
line, é baseado em três princípios: ser ambientalmente
correto, socialmente justo e economicamente viável.
Um outro conceito baseia-se na utilização dos insumos
que permitam às gerações futuras sobreviverem com as
condições existentes no planeta. Essas duas definições
estão relacionadas entre si. Mas a sustentabilidade é
sempre um processo. Não há uma regra, um fórmula
mágica, por isso ela é tratada caso a caso. Em um determinado
projeto, você pode priorizar os recursos que
proporcionam economia de água, se o abastecimento
for uma questão crucial naquela localização. Nem sempre
é possível contemplar todas as soluções sustentáveis
em um mesmo projeto.
De fato, a sustentabilidade leva em conta muitos aspectos
e um dos mais desafiadores parece ser o longo
prazo. Por quê?
O projeto arquitetônico de um edifício pautado pela
sustentabilidade deve prever um ciclo de vida de, no
mínimo, 50 anos. Ao longo desse tempo, o projeto e
a execução da obra representam apenas 15% do custo
da edificação, enquanto 85% das despesas destinam-se
à manutenção. Então, precisamos focar nossa atenção
em soluções para reduzir esse gasto de 85% ao longo
da vida útil do edifício. Isso inclui a proteção das fachadas
contra as intempéries, que facilita e barateia a manutenção.
A durabilidade é muito importante. Imagine
o impacto ambiental de um prédio que durasse apenas
dez anos, todo o entulho que seria gerado, sem contar
o material que seria necessário para reconstruí-lo.
Isso remete à questão das reformas, que também geram
muito entulho. Qual é a solução para isso?
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O arquiteto Paulo
Lisboa lembra que
é possível implantar
diversas soluções de
sustentabilidade a um
custo equivalente a 2%
do investimento da obra
Este projeto
incorpora soluções de
sustentabilidade como
redução do consumo
energético, através
do uso de energia
renovável (solar), além
de ventilação cruzada e
“chaminé” para melhoria
do conforto ambiental
Ao longo de 50 anos, muita coisa acontece. Para acompanhar
as novas necessidades do mercado, as empresas
crescem, encolhem, se dividem e necessitam mudar
sua estrutura e suas instalações. Por isso, é preciso prever
uma flexibilidade nos espaços físicos dos escritórios,
que devem ser modulados, ter componentes para
montar e desmontar, como um lego. Isso permite a readequação
dos ambientes com baixo custo, além de
se traduzir em sustentabilidade. Numa recente viagem
à Espanha, descobrimos um sistema de piso cerâmico
produzido por uma multinacional, com forte presença
no Brasil, que tem colocação instantânea, limpa, sem
argamassas, rejuntes e entulho. Além disso, é facilmente
substituível. É disso que estamos falando!
Como ficam os custos de um projeto mais sustentável?
Nós definimos níveis de sustentabilidade associados
ao custo. Primeiramente, vêm as questões facilmente
resolvíveis, ou seja, sem nenhuma despesa a mais. É
muito barato implantar a racionalização do consumo de
água, utilizando economizadores, medição e descarga
com fluxo duplo. O consumo de energia elétrica
também pode ser reduzido com ventilação cruzada,
vidros especiais que impedem a entrada de calor no
interior da edificação, entre outros recursos. É possível
incorporar um bom número de soluções sustentáveis a
um custo equivalente a 2% do valor da obra. Quando
se passa a outro patamar, onde o nível de exigência
é maior, esses gastos crescem muito, em função da
tecnologia necessária. No caso de um edifício cujo
consumo de energia deve ser zero, ele
tem que ser auto-suficiente do ponto
de vista energético, utilizando energia
renovável, eólica ou solar. A tecnologia
está disponível, mas o custo é muito
alto. Utilizamos um gráfico que faz uma
relação entre o nível de sustentabilidade
e o custo relativo a essa eficiência para
analisar a viabilidade econômica. Outro
exemplo é o uso da água da chuva, viável
apenas na irrigação do jardim.
Para uso na bacia sanitária pode
ser inviável, pois é necessário um
tratamento especial, já envolve
questões de saúde pública. Cada
caso precisa ser estudado.
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