Foto Felipe Reis
entrevista nelson kon
arquiteto de imagens
Especializado em fotos de arquitetura e cidades,
o fotógrafo Nelson Kon desde 1985 reúne em
seu acervo centenas de projetos que contam a
história da arquitetura moderna e contemporânea
brasileira. Suas lentes já captaram – em ângulos
bastante particulares – projetos assinados por
Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova
Artigas, Lina Bo Bardi e Rino Levi, entre muitos
outros. Nessa entrevista exclusiva para KAZA, ele
nos fala de sua visão privilegiada da arquitetura.
Você estudou arquitetura e se tornou fotógrafo. Como foi essa
migração da arquitetura para a fotografi a?
Estudei arquitetura na FAU/USP entre 1979 e 1982. E lá na USP,
no meu tempo de estudante, tinha um time excelente no laboratório
fotográfi co que era chefi ado pelo Cristiano Mascaro. As instalações
do laboratório eram incríveis e, logo no primeiro ano da faculdade, me
apaixonei por fotografi a e decidi que seria um fotógrafo profi ssional.
Houve algum motivo especial para você decepcionar-se com a
arquitetura?
Não foi exatamente uma decepção. Eu entrei na faculdade com
dezessete anos e nessa idade acredito que ninguém sabe direito o
que vai fazer para o resto da vida. No segundo ano do curso já havia
decidido que iria trabalhar com fotografi a e desde 1983, quando
me formei, não sei fazer outra coisa que não seja fotografar.
Por ter estudado arquitetura decidiu ser um fotógrafo especializado
nessa atividade?
Tudo em fotografi a tem uma correlação forte com a arte. Na fotografi
a você tem a cidade, as pessoas, os edifícios e toda essa
riqueza visual a sua volta. Fotografar é selecionar, recortar... O fotógrafo
aponta para um pedacinho de um espaço e faz a foto. A
arquitetura é parecida, pois temos um repertório de informações
sobre a cidade e suas construções. Com esse repertório, o arquiteto
também faz um recorte com os seus projetos. A fotografi a e a
arquitetura são áreas muito próximas. À princípio eu não me encaminhei
para fazer fotografi a de arquitetura. Quando me formei não
havia mercado para esse tipo de foto. As revistas especializadas
trabalhavam com material feito pelos próprios arquitetos ou contratavam
fotógrafos de outras áreas para documentar um projeto. Não
existiam fotógrafos especializados em arquitetura, com exceção de
por luiz claudio rodrigues
fotos nelson kon
O fotógrafo-arquiteto Nelson Kon ao lado de seu principal
instrumento de trabalho em seu estúdio em São Paulo. As fotos
na página revelam o seu talento em ângulos e enquadramentos
característicos de seu trabalho: flagrante da decolagem de um
avião no Aeroporto de Congonhas (São Paulo), o Museu Brasileiro
da Escultura projetado por Paulo Mendes da Rocha e uma das
fachadas do SESC Pompéia, da arquiteta Lina Bo Bardi
uma geração anterior, entre as décadas de 1940 e 1960, quando
houve uma demanda internacional pela arquitetura brasileira.
Que geração de fotógrafos foi essa que registrou a arquitetura
modernista brasileira?
Foram vários: o Marcel Gautherot, um francês que fotografou muito a
obra do Niemeyer e se tornou amigo dele e de outros arquitetos modernistas
cariocas. Seu trabalho tem fotos lindíssimas da construção de
Brasília. Em São Paulo havia o Peter Scheier, o José Moscardi e o Hans
Gunter Flieg, que fotografou muita coisa da Lina Bo Bardi e está vivo até
hoje. Em geral, eram fotógrafos estrangeiros que vieram ao Brasil por
conta do interesse da mídia internacional pela arquitetura brasileira.
Entre meados da década de 1960 e 1980 houve um refluxo
desse tipo de fotografia?
A partir da metade dos anos 1960 há um desinteresse e as publicações
internacionais esquecem o Brasil. Então houve uma lacuna, com exceção
do trabalho do Cristiano Mascaro, que fez fotos de arquitetura, mas
o foco principal dele sempre era a cidade e suas questões urbanas.
O renascimento da fotografia de arquitetura no Brasil aconteceu
a partir da década de 1980?
De certa forma sim. Posso falar sobre o meu trabalho. Antes de fazer
fotos de arquitetura fui trabalhar com publicidade, mas não gostei muito
do meio publicitário e decidi fazer o que gostava sem me importar com
o mercado. Comparando com a publicidade, a fotografia de arquitetura
pagava pouco, mas compensava pela tranqüilidade que passei a ter
com o meu trabalho, pois as fotos publicitárias não me sensibilizavam.
Foram os arquitetos da sua geração que começaram a lhe encomendar
trabalhos?
Sim. Eram profissionais da minha idade e com a mesma formação.
Muitos estudaram comigo na FAU. Fotografei projetos assinados
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